Falar de Fatal Fury é, para muitos, como abrir uma cápsula do tempo. É revisitar a infância em salões de jogos e cafés onde as máquinas arcade cintilavam, atraindo tanto os jogadores experientes quanto os mais novos, que observavam fascinados. Essa nostalgia é, sem dúvida, um dos motores por trás do impacto que Fatal Fury: City of the Wolves causa hoje um retorno 26 anos após o último título da franquia (Mark of the Wolves, de 1999). O novo jogo chega para surpreender e, de forma notável, consegue modernizar o legado da SNK sem o descaracterizar.
Embora Fatal Fury não tenha sido o primeiro jogo de luta, foi um dos mais marcantes. Criado em 1991, apresentou inovações como o combate em planos distintos e personagens icônicos como Terry Bogard, que cruzaria mais tarde para a franquia The King of Fighters. Agora, com City of the Wolves, a SNK oferece um tributo contemporâneo à sua herança, apostando em jogabilidade robusta, modos variados e mecânicas novas, que dialogam com veteranos e novatos.

Modos de Jogo
A oferta de modos é extensa e bem pensada. O tradicional modo Arcade está presente, com cada personagem seguindo seu próprio percurso até o boss final, em um formato clássico e eficaz. Já o modo Practice oferece tutoriais bem detalhados, missões desafiadoras e um sistema de treino ideal para compreender os fundamentos e mecânicas avançadas, como o uso do S.P.G. e REV.
O modo Online é outro destaque, com cross-play entre PlayStation, Xbox e PC, facilitando encontrar oponentes e garantindo partidas fluidas, mesmo nas ranqueadas. Há várias opções: Ranked, Casual, Room Match, perfil online, replays, e até o Clone Mode, onde enfrentamos IA baseada no estilo de jogadores reais, adicionando um nível extra de desafio e autenticidade.
Porém, a maior novidade é o modo Episodes of South Town, que traz uma proposta de RPG de ação. Nesse modo, navegamos pelo mapa da cidade, cumprindo missões, ganhando XP e desbloqueando equipamentos. É uma tentativa bem-sucedida de expandir o conteúdo single-player e explorar melhor as histórias e habilidades dos personagens. Apesar de se tornar um pouco repetitivo com o tempo devido à necessidade de grind, a variedade de desafios e a progressão de personagens mantêm o interesse dos fãs de campanha.

Jogabilidade e Mecânicas
O que realmente solidifica City of the Wolves como um grande jogo de luta é sua jogabilidade refinada. A SNK encontrou um equilíbrio quase perfeito entre nostalgia e inovação. O sistema S.P.G. (Selective Potential Gear) dá uma camada estratégica ao combate ao ativar buffs quando o jogador entra em uma zona específica da barra de vida. Já o sistema REV permite melhorar golpes especiais, mas exige cautela: seu uso excessivo gera OverHeat, abrindo brechas ao oponente.
Há ainda dois esquemas de controle clássico e simplificado que permitem acessibilidade aos iniciantes e profundidade aos veteranos. Com mecânicas como guard crush, dodge counter e just defend, o jogo recompensa não só a ofensiva, mas também a defesa bem executada.
Personagens e Estilo
O elenco conta com 17 personagens jogáveis, entre nomes familiares (Terry, Rock Howard, Mai Shiranui) e novatos, como Preecha, mestre do Muay Thai. Há ainda dois convidados inesperados: Cristiano Ronaldo, com ataques baseados em futebol acrobático, e DJ Salvatore Ganacci, que usa coreografias de dança como técnicas de luta. Apesar de fora do padrão, essas inclusões funcionam graças à criatividade da SNK.
A diversidade de estilos de combate impressiona: desde lutadores focados em zonar o inimigo, até personagens de pressão constante. O Episodes of South Town também ajuda a aprofundar a personalidade dos lutadores, com diálogos e interações que antes ficavam restritas às animações finais dos modos arcade.
Gráficos e Som
Visualmente, o jogo aposta em um estilo animado, com forte inspiração nas ruas dos anos 80/90: cenários cheios de grafites, iluminação intensa e atmosfera urbana. Os modelos de personagens são detalhados, com boas animações principalmente nos ataques cinematográficos. Há, no entanto, espaço para melhorias: certos elementos de cenário, como pisos ou multidões, parecem desatualizados e menos vivos. Ainda assim, isso não compromete a essência do jogo.
A trilha sonora mistura rock, hip-hop e jazz, reforçando o estilo urbano e energético. A jukebox que permite ouvir músicas clássicas da franquia é um mimo aos fãs de longa data.

Conclusão
Fatal Fury: City of the Wolves é uma das melhores surpresas recentes no gênero dos jogos de luta. Mais do que um simples revival, é uma evolução respeitosa de uma franquia histórica. Oferece conteúdo robusto para quem gosta de jogar sozinho ou competir online, com jogabilidade técnica e divertida. Pode não ser perfeito faltam cinemáticas e há repetição em certos modos, mas sua alma está intacta.
Para os que viveram a era dourada dos arcades, é uma viagem emocionante. Para os novos jogadores, uma chance de conhecer uma das séries mais influentes do gênero. A SNK não somente trouxe Fatal Fury de volta ela o trouxe renovado e relevante.